Especialistas discutem problemas de laboratórios veterinários de todo o país

Reunião técnica, promovida pelo IBEqui, buscou identificar as dificuldades e apontar soluções para os exames no Brasil

O Instituto Brasileiro de Equideocultura (IBEqui) promoveu, na terça-feira (24/11), às 16h, uma reunião técnica virtual, com especialistas e membros das entidades associadas, para tratar de questões relacionadas aos exames e laboratórios veterinários de todo o país.

A qualidade, regularidade, pontualidade e os preços dos exames foram apontados como entraves. “Por isso, a importância dessa nossa primeira reunião e de aprofundarmos a agenda de debates, com o objetivo de propor soluções comuns”, frisou Manuel Rossitto, presidente da Junta Administrativa do IBEqui, introduzindo as discussões.

As divergências nas análises entre laboratórios nacionais e internacionais, os problemas de logística e técnicas de colheita, as formas de armazenamento e a de falta de padronização também foram citados.

“Encontramos problemas com os tipos de amostras que estão sendo enviadas aos laboratórios e problemas internos”, lembrou Rui Vincenzi, presidente da Associação Brasileira dos Médicos Veterinários de Equídeos (Abraveq). 

 
Demora nos resultados e taxa extra são problemas em comum

Luciano Beretta, médico-veterinário com mais de 25 anos de experiência no Quarto de Milha, apontou que a reclamação mais comum entre os criadores da raça é a demora para o retorno dos laboratórios.

“Isso deixa os criadores com várias dificuldades. Além disso, os laboratórios estão com dificuldade para garantir o prazo de entrega, mas quando você paga uma taxa extra, com valor dobrado, eles te entregam em 24 horas o resultado. Mais de 50% dos criadores, hoje, no Quarto de Milha, estão trabalhando com a taxa extra”, acrescentou.

“Aqui, no Mangalarga, a gente tem o mesmo problema apontado pelo Luciano”, destacou Henrique Fonseca Moraes Júnior, superintendente do Serviço de Registro Genealógico (SRG) da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos da Raça Mangalarga (ABCCRM). “Quase todos os laboratórios têm essa fila. Este ano, tem saído poucos exames de DNA, com a frequência que a gente precisa. E, se realmente você paga essa taxa, acaba saindo no dia seguinte. A gente briga contra isso”, frisou.

Outro aspecto mencionado por ele é a dificuldade para trocar de laboratório. “A gente, às vezes, até gostaria de passar os potros para outro laboratório, mas não temos acesso ao banco de dados com as informações das éguas e dos garanhões.”

Henrique Machado, superintendente do SRG da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), afirmou que o maior ponto de estrangulamento da raça é o exame de DNA. “Nós só emitimos o registro provisório com a identificação completa. Isso barra toda a emissão de registro do nosso SRG e acaba influenciando na entrada de renda para a associação.”

Os laudos errados também são frequentes, de acordo com ele. “Eu tive, recentemente, animais com pais de pelagem sólida e o laboratório qualificou como tordilho. Temos também sumiço de material. É, realmente, um ponto complicado para o Mangalarga Marchador.”

Emílio Fanton, da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Paint (ABCPaint), também apontou a demora nos resultados e a incerteza dos exames após a divulgação como problemas a serem solucionados em conjunto pelas associações. “Eu creio que o problema é igual para todos. É importante termos iniciativas como essa que o IBEqui está promovendo para que possamos resolver. O nosso maior foco hoje deve ser esse”, concluiu.

Frederico Araújo, superintendente do Serviço de Registro Genealógico (SRG) da Associação Brasileira do Cavalo Crioulo (ABCCC), afirmou que a logística e a rotina de exames na raça é diferente na questão dos exames de DNA. Segundo ele, 95% dos materiais são enviados a um mesmo laboratório.

“Esse material não é de escolha do criador e todas as amostras passam pela associação. Nossos técnicos coletam o material. A associação faz a cobrança junto ao criador e, só então, envia ao laboratório para análise. Com isso, garantimos o recebimento e o envio sabendo que não haverá problemas financeiros”, explicou.

O registro não é relacionado ao vínculo paterno e materno em todos os produtos, de acordo com Araújo: “O nosso maior volume inscrito é fazendo fenotipagem. Mas, mesmo com tudo isso, neste ano, tivemos uma série de dificuldades também com laboratórios, principalmente em relação aos prazos e ao retorno de resultados dos comparativos necessários.”

“Estamos, hoje, com quase 90% dos resultados já conosco. Mas, quando falamos de genotipagem, que é o nosso maior volume, temos ainda 90% dos nossos pedidos em andamento. Esse é um problema que precisamos enfrentar. A questão do banco de dados estar alocado em um único laboratório também preocupa”, concluiu.

Possíveis caminhos e soluções

Francisco Carrasco, vice-presidente de exposições Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Árabe (ABCCA), lembrou que a entidade teve problema com diversos laboratórios por muitos anos, mas, após migrarem as análises para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os problemas cessaram. “Nós já estamos há um tempo lá com eles e não tem havido problema. As amostras são enviadas para a associação e nós nos responsabilizamos pelo pagamento”, disse.

Ismael Gonçalves da Silva, presidente da Associação Brasileira do Puro Sangue Lusitano (ABPSL), reforçou que as análises do laboratório da universidade mineira também têm sido utilizadas e funcionado. “Nós tivemos muitos problemas com os laboratórios para exame de DNA, por muitos anos, quando precisávamos enviar as amostras para Portugal. Agora, estamos no mesmo caminho do cavalo Árabe, junto à UFMG. É um laboratório bastante respeitado. Temos resultados em até doze horas com eles. É uma solução para os colegas de outras raças.”

Nilson Genovesi, presidente do Sindicato Nacional dos Leiloeiros Rurais (SNLR), destacou que a entidade orienta às leiloeiras a solicitar ao vendedor que se comprometa com a regularização do registro. “Disciplinar a relação das entidades com os laboratórios é fundamental, pois o exame de antidoping está ligado diretamente ao Bem-Estar Animal”, afirmou Genovesi.

Para um melhor entendimento da situação e na busca por soluções, um novo encontro será agendado, ainda na semana que vem, com os responsáveis técnicos dos laboratórios e entidades representativas desse segmento. “Precisamos ouvir ambos os lados para que possamos tomar ações adequadas e que contribuir para o setor”, finalizou Rossitto.